quinta-feira, 12 de agosto de 2010

VAZIO.....


Meu corpo, um dia queimou em fogo, incandescente como o sol
Meu coração foi permanentemente iluminado pela luz da lua
Meu amor carregou em si o brilho das mais belas constelações
Por que então a minha alma, tornou-se repentinamente tão escura?

Preenchida por este todo complexo e imenso de absolutamente nada
Inexplicável e inexprimível falta de sensações
Espécie de letargia provocada por uma insignificante ausência
Que nada diz, nada vê, nada modifica... Inexistência?
Sentidos pífios, grande lacuna, energia insossa, sem importância...
Não incomoda, não causa dor, não dá forças, não cansa!

Dominada toda e genuinamente por uma estranha torpeza
Há algo de desconhecidamente familiar nessa quase fraqueza!

Não tenho a intenção... Não vou lutar...
Mas obrigo-me ao menos a tentar lembrar...
Restarão em mim lembranças a que buscar?

Só sei que preciso desesperadamente lembrar...
Necessito lembrar-me agora, do que não posso esquecer!!!

De como é mágico o sabor do sentir...
Sentir por sentir...
Sentir uma coisa qualquer
Sem que haja motivo ou razão,
interesse ou explicação...
Sem que existam metas ou planos...

Sentir, sentir... Infinita e indefinidamente...
Simplesmente fechar os olhos e sentir...

Como se sente a brisa tocando o rosto e emaranhando docemente os cabelos
Ou o cheiro do mar nos invadindo em ondas de frescor
Como se sente o mato roçando os pés descalços como num afago
E o tato sublimemente macio do tocar as pétalas de uma rosa

É preciso lembrar...
Como se sente o carinho de mãos afetuosas alisar-nos a face
Ou aquele sorriso aberto, espontâneo e arrebatador de uma criança...

Em que momento da vida construi?
E em qual deles entrei...
Em minha bolha ilusoriamente segura e particular?
Em que momento da vida deixei de me permitir?

Tornar-se adulta, é ser responsável e racional, eu sei!
Mas e todo o resto?
Para ser adulta é preciso ser tola e dura a ponto de acreditar,
Que olhos cansados não podem mais olhar?
Que não se pode ver claramente o que verdadeiramente importa?
Não!
Recuso-me a acreditar!

Hoje,
Mesmo sem desejar,
Anseio o amargo da raiva
O salgado da tristeza
O doce da ternura
O apimentado fascínio
Hoje... Desejo qualquer sabor!

Amanhã,
Ainda necessitarei chorar,
sofrer,
indignar-me,
e sobretudo, amar!!!

E agora?
Agora, só o que preciso é lembrar!
Eu definitivamente preciso lembrar-me daquilo que não posso esquecer...
Preciso lembrar-me do que é F E L I C I D A D E!

Ah! Se eu pudesse sentir...
Por um dia, uma noite...
Por um quarto de hora,
Um tempo qualquer!

Ah! Se eu pudesse sentir...
Por uma ínfima,
E ainda assim interminável fração de segundo...

Quem me dera...
O tempo pudesse criar uma nova medida de tempo
Só para que eu tivesse um tempo diferente...
Que durasse um bocado de tempo a mais,
Tempo suficiente só, para me permitir!

Quem sabe nessa dimensão, numa paralela,
Num outro mundo, numa nuvem, numa esfera?

Quem sabe se eu conseguisse lembrar-me...
Quem sabe se eu conseguisse sentir-me...
Quem sabe... Enfim... Viva!!

Ah! Quisera eu a dor do amor não correspondido.
A felicidade e o fel de lambuzar-me no fruto proibido...
Quisera um tanto razoável de mágoa, a que perdoar
Ou uma quantidade mínima de adoração, para ajoelhada me prostar!

Quisera eu ouvir uma mentira sem vergonha e deslavada,
Mas que me fizesse, ainda que iludida, voltar a acreditar...

Quisera eu, dar de presente à minha alma tão sem sentido agora...
Uma razão...
Ainda que completamente desprovida de razão!

Quisera dar à minha alma
Uma loucura, para se apavorar!
Um escandalo, para de tolice se envergonhar...
Uma quimera, uma fantasia infantil, algo maluco com o que sonhar...

Se fosse capaz de ao menos sentir saudades
Daquela indescritível, insana e intensa emoção
Contida na deliciosa imprudência da louca paixão...

Ah! Se me fosse permitido...

Por todos os Deuses e Deusas do Olimpo,
Se me fosse concedido um único beijo de amor...
Que me levasse ao inferno! Eu iria sem hesitar...
Desde que antes, delirando, me fizesse flutuar!

Mas reviro a minha velha bagagem,
Desfaço-me de todas e tantas as tralhas que não servem mais,
Mexo em cada canto escondido de minha alma,
Chego tão fundo que encontro os segredos...
Todos e quantos não podem ser tocados ou revelados!

Mas o que realmente busco, isso não posso encontrar
Não vejo ali esperança ou pesar...
Não há uma lâmpada, um raio de sol, um odor familiar,
Não há um feixe de luz a que me apegar...

Não há nada!
Nem mesmo medo ou pavor consigo vislumbrar...

O corpo continua quente
O coração ainda bate iluminado por uma força desconhecida
O amor... Maior do que todas as coisas...
Inexplicavelmente não deixa de brilhar!
E em minha alma negra e vazia, nada... Nem céu, nem mar!

Sobrevivo assim, de fragmentos e momentos
Mesmo sem esperança, carrego no peito
A certeza de que trocaria TODA A VIDA.
Por uma centelha de amor, por um ínfimo momento ...

E se nada disso me fosse possível,
Se houvesse a certeza de que esse “talvez” jamais pudesse chegar...
Quisera eu então, ao menos,
Conseguir sentir pena de mim mesma!

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